Produtores de mirtilo temem pela próxima campanha que arranca em maio e junho
Os produtores de mirtilo escreveram uma carta à Ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, manifestando "uma grande preocupação com a campanha que está a iniciar", que deverá arrancar entre maio e junho. Apelam, pois, à "implementação de medidas que permitam mitigar o impacto desta pandemia nas empresas que se dedicam à produção de mirtilo e nas famílias que dela dependem".
"O sentimento de aflição e a angústia são constantes nos produtores que, confrontados com as dificuldades de comercialização, de acesso a fatores de produção, de higiene e proteção e, principalmente, de recrutamento de trabalhadores para a colheita, temem pela perda total da sua produção", refere a ANPM – Associação Nacional de Produtores de Mirtilo.
A incapacidade de colheita, mesmo que parcial, da fruta de um pomar de mirtilos, favorece o desenvolvimento de pragas e doenças (a 'Drosophila suzukii', por exemplo), que comprometem toda a produção desse pomar, mas, também, a de explorações próximas, determinando a impossibilidade de comercialização.
A ANPM lembra que "o mirtilo é uma cultura recente em Portugal, estimulada pelos incentivos à instalação de jovens agricultores, mas tem sido também objeto de investimento por parte de grupos nacionais e internacionais, com interesse na área da fruticultura".
Dados revelados pela Associação do setor revelam que a superfície nacional com explorações de mirtilo tem "crescido exponencialmente", tal como o número de produtores envolvidos nesta cultura.
Em 2010, haviam pouco mais de 40 hectares de mirtilo em Portugal, para exploração comercial. Hoje ultrapassam os 2.000 hectares e estima-se que, em 2020, "a área aumente para mais de 2500 hectares, o que implicará, em três anos, "uma produção de 40.000 toneladas e um volume de negócios superior a 160 milhões de euros, colocando o mirtilo no topo da tabela de valores de exportação de fruta nacional".
A ANPM – Associação Nacional de Produtores de Mirtilo realizou um levantamento com base num inquérito sobre os constrangimentos dos produtores que já se encontram a colher e dos que irão iniciar a colheita nas próximas semanas. Este inquérito permite identificar como principais preocupações a mão de obra, devido às restrições na deslocação e no acesso a mão-de-obra estrangeira, que está limitado pela interdição na imigração. E há as imposições em termos de distâncias de afastamento.
Também está em causa o transporte e a logística. A Associação Nacional de Produtores de Mirtilo diz que o transporte nacional e internacional de fruta "está muito mais difícil de contratar, com disponibilidade reduzida e com aumentos de preço muito significativos".
Por outro lado, há quebra na procura interna (mercados de proximidade). Não sendo o mirtilo um bem de primeira necessidade, "são óbvias as quebras na procura, acentuadas pelo encerramento de pontos de venda e de empresas que eram clientes típicos deste produto (hotelaria, restauração, pastelaria, frutarias, mercados, feiras e eventos), refere a Associação.
Por último, as exportações. Tal como no mercado nacional, "também os países de destino habituais deste produto se encontram com problemas, reduzindo a procura e pressionando o preço de venda". Para além disso, o "aumento generalizado de preços de produtos e serviços essenciais, de fatores de produção e da adaptação às necessidades de segurança exigidas, não se refletem no preço final de venda da fruta, sendo o produtor a encaixar este aumento".
Os produtores de mirtilo querem, pois, "a adoção de medidas concretas, urgentes e de acesso simples, que permitam minimizar os prejuízos destes agricultores, evitando o abandono de pomares, com todo o impacto social e fitossanitário que isso implica".