Será criada equipa interministerial para acompanhar seca em Portugal
O ministro da Agricultura anunciou esta quinta-feira que o Governo vai criar a "muito curto prazo" uma equipa interministerial para acompanhar a evolução da situação de seca em Portugal e equacionar medidas que se revelarem necessárias.
"O Governo está naturalmente atento. A muito curto prazo será formalmente constituída uma equipa interministerial para não só acompanhar a evolução da situação como para equacionar as medidas que as circunstâncias determinarem", disse Luís Capoulas Santos, em Beja, na sessão de abertura da feira agropecuária Ovibeja.
Atualmente, referiu, estamos "num contexto algo paradoxal", já que, por um lado, "o setor agrícola passa por aquilo que podemos considerar, em termos gerais, um bom momento", e, por outro lado, "vivemos um momento de grande apreensão face aos sinais que se avolumam de uma seca".
"Vamos no terceiro ano de precipitação abaixo do que é normal e todos conhecemos as terríveis consequências destes períodos, que, sabemos, são cíclicos no Alentejo, mas tomamos a consciência disso quando nos batem à porta", afirmou Capoulas Santos.
Mas, atualmente, ao contrário de iguais períodos de seca no passado, quando se dizia que "faltava o Alqueva para resolver o problema", "o Alqueva, felizmente, existe e porque ele existe os problemas estão muito atenuados face àquilo que era a realidade" anterior ao projeto, frisou.
Na sua intervenção na sessão de abertura da Ovibeja, Rui Garrido, presidente da associação ACOS - Agricultores do Sul, a organizadora da feira, disse que, atualmente, "começam a ficar comprometidas as pastagens e as culturas arvenses de sequeiro".
Por outro lado, continuou, "as barragens públicas e privadas fora do perímetro do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva estão vazias, sendo uma incógnita o que vai acontecer relativamente às reservas hídricas para abeberamento dos efetivos pecuários".
"Ou se confirmam as previsões meteorológicas para os próximos dias ou perspetiva-se uma situação muito semelhante à ocorrida no ano passado", alertou Rui Garrido.
Na quarta-feira, a Federação Nacional de Regantes de Portugal (Fenareg) alertou para a existência de 30 mil hectares de culturas "em risco" no Alentejo por causa dos baixos níveis de armazenamento de água em algumas barragens devido à seca.
Por isso, admitiu a Fenareg, "poderão existir medidas de rateio" de água na campanha de rega deste ano, como já foi anunciado para o Aproveitamento Hidroagrícola de Odivelas, que beneficia 12.751 hectares nos concelhos de Ferreira do Alentejo (Beja) e de Grândola e Alcácer do Sal (Setúbal).
No passado dia 12 deste mês, a Associação de Beneficiários da Obra de Rega de Odivelas (ABORO) anunciou que decidiu ratear a água disponível para rega dando a possibilidade aos seus regantes de não recorrerem à água do Alqueva se assim o entenderem.
Segundo a ABORO, a decisão, tomada pelos seus regantes em assembleia geral, surgiu devido ao baixo nível de armazenamento de água da albufeira de Odivelas e decorreu da aplicação do novo e "elevado" preço da água do Alqueva para as associações de regantes confinantes com o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA).
Em declarações à Lusa, Luís Capoulas Santos, confrontado com o alerta da Fenareg e com a situação no Aproveitamento Hidroagrícola de Odivelas, disse que "todos sabemos que estamos num período de ciclo que se começa a vislumbrar de seca e evidentemente que a única coisa que o Governo ainda não pode fazer é decretar que chova".
Mas, frisou, o Governo, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva e as associações de regantes estão a gerir "da melhor e racional forma possível" a água, que é um "recurso escasso".
Fonte: Diário de Notícias