Tendências atuais da fruticultura portuguesa
Por Amílcar Duarte
Centro para os Recursos Biológicos e Alimentos Mediterrânicos (MeditBio)/Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, Faro
Professor da licenciatura em Agronomia e do mestrado em Hortofruticultura
A fruticultura tem sido um dos setores mais dinâmicos da nossa economia nos últimos anos.
As razões desta dinâmica são diversas. Por um lado, o consumo de frutas tem vindo a aumentar e a diversificar-se, sobretudo com a procura de frutos que até há poucos anos eram quase desconhecidos. Por outro lado, a crise em que o país foi mergulhado, devido ao sumidouro de dinheiros públicos em que os bancos se transformaram, levou a que muitos empresários procurassem na agricultura e, em grande parte, na fruticultura, uma alternativa de investimento relativamente seguro e lucrativo.
Estes fatores, por si só, não seriam suficientes para que o setor crescesse e evoluísse da forma que o tem feito. Juntou-se a disponibilidade de terra que estava abandonada ou subaproveitada, o aumento da área regada, a existência de técnicos qualificados disponíveis para trabalhar nas empresas e a vontade de um certo “regresso às origens” ou a necessidade de afastamento do stress urbano que muita gente vem sentindo.
Fruticultura: um setor dinâmico e tecnologicamente avançado
Temos hoje em Portugal uma fruticultura moderna, bem diferente da que tínhamos há 20 ou 30 anos. Isso reflete-se na produtividade dos pomares. De 1990 até aos dias de hoje, a produção por hectare duplicou na maioria das culturas frutícolas. Esta evolução resulta da modernização dos pomares (compassos mais adequados, plantas mais produtivas, etc.) e da melhoria das práticas culturais (rega, fertilização e controlo de infestantes, pragas e doenças). Alguns pomares passaram a ser regados e noutros melhorou-se o uso da água de rega. A fertilização dos pomares faz-se hoje de forma mais racional, com planos de fertilização concebidos em função das necessidades das culturas e tendo como base análises de solo e foliares. O controlo de pragas e doenças é hoje conduzido por técnicos, em vez de ser recomendado pelo vendedor de pesticidas, como acontecia há uns anos.
Apesar dos progressos realizados, a modernização tecnológica continua. A agricultura de precisão está dando os primeiros passos na fruticultura, com algum atraso e com dificuldades adicionais, relativamente ao que acontece nas grandes culturas arvenses. A nutrição está a mudar, passando a visar o aumento da disponibilidade de nutrientes e da eficácia do sistema radicular da planta.
Aposta na qualidade do fruto
Atingidos elevados níveis de produtividade, importa agora apostar na qualidade da fruta produzida. Há que reconhecer que a modernização da produção e o aumento da produtividade acarretou, em alguns casos, uma diminuição da qualidade dos frutos. Importa agora recuperar alguma dessa qualidade, sem perda significativa de produtividade. E quando falamos de qualidade, já não se trata só de calibre e aspeto exterior do fruto; falamos sobretudo de sabor. Os agricultores que querem ser competitivos e escoar a sua produção têm de procurar produzir fruta com mais qualidade. Claro que continuará a haver consumidores que querem comprar fruta barata, mas são cada vez mais os que procuram fruta com sabor, mesmo que não estejam disponíveis para pagar mais por isso.
Agricultura biológica
A preocupação da sociedade com a qualidade e segurança dos alimentos e com a conservação do ambiente tem levado à progressiva retirada dos produtos fitossanitários mais tóxicos e a ajudas à adoção de modos de produção mais sustentáveis, nomeadamente, a produção integrada e a agricultura biológica. Em algumas culturas, a passagem para a agricultura biológica é hoje possível, sem perdas de produtividade e até com redução dos custos de produção. Noutros casos, essa passagem não é tão fácil, devido à presença de doenças ou pragas difíceis de combater. Mesmo assim, não há dúvidas de que o caminho a trilhar é o da diminuição da utilização de pesticidas. Alguns agricultores e seus fornecedores apostam hoje na produção com resíduos zero. Esse é também um dos caminhos em direção à agricultura biológica. Talvez seja uma forma eficaz de vencer algumas resistências dos agricultores (e até de técnicos) à passagem direta para a agricultura biológica. Mesmo assim, é necessário aumentar a área de culturas frutícolas em modo de produção biológico, até porque o mercado é hoje deficitário neste tipo de fruta.
Competitividade da fruticultura portuguesa e comércio externo
A competitividade da fruticultura portuguesa aumentou muito nos últimos anos. Temos empresas capazes de competir no mercado interno e no externo. A fruta portuguesa é hoje conhecida no estrangeiro e as exportações têm vindo a aumentar (Figura 1). Mesmo assim, Portugal continua a não ser autossuficiente, na maioria das espécies frutícolas. As importações são, salvo em raras exceções, superiores às exportações. Quando comparamos preços, vemos que a fruta exportada é mais cara que a importada; talvez porque se exporte a melhor fruta, enquanto as importações incidem sobre fruta de mediana qualidade.
Introdução de novas culturas
A introdução de novas culturas não é uma novidade. Desde sempre, novas culturas foram aparecendo e outras foram perdendo importância ou mesmo desaparecendo. Das culturas que hoje consideramos como nossas, poucas são autóctones. Quase todas resultaram de um processo de introdução. Umas foram introduzidas há séculos, como a macieira ou a laranjeira; outras têm poucas dezenas de anos, como o kiwi ou o abacateiro. De entre os frutos “desaparecidos”, podemos referir a nêspera europeia, que hoje quase ninguém conhece.