Vespa asiática causa prejuízos avultados. Apicultores exigem medidas urgentes
Num estudo da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP), a que a TSF teve acesso, os especialistas concluem que a praga de vespa asiática está a causar prejuízos de 15 euros por colmeia. Os gastos dizem respeito à diminuição do número de abelhas, ao reforço do suplemento alimentar e à baixa na produção de mel. "É gravíssimo em termos de quebras de produção", garante Manuel Gonçalves, Presidente da Federação.
Um ano depois de ter sido criada a Comissão de Acompanhamento para a Vigilância, Prevenção e Controlo da Vespa Velutina (CVV), pelo Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, a praga está longe de estar controlada e os apicultores pedem medidas urgentes por parte das autoridades. Manuel Gonçalves nota que a vespa está a adaptar-se mais rápido do que o esperado: "Está a instalar-se em zonas que nós pensávamos que só iria aparecer daqui a quatro ou cinco anos. Por exemplo, a nível de altitude: nós nunca pensámos que iriam aparecer vespas isoladas a 1000 metros de altitude."
Mais ação, menos burocracia
Presidida e coordenada pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a CVV é composta por várias entidades, nomeadamente a FNAP. Os apicultores reconhecem o esforço das autoridades para localizar e destruir ninhos, admitem que a situação é complexa, tendo em conta a capacidade de reprodução da vespa asiática, mas consideram que é preciso menos burocracia para poder avançar. Mais do que identificar casos, a FNAP diz que é urgente criar regras para destruir os ninhos: "Com dados concretos, como é que se vai fazer, é com drone, é com cana... [o importante era] que acabássemos com este 'diz que diz' e que acompanhássemos - referenciados, por exemplo, pelos franceses, que têm uma experiência muito grande -, e déssemos o aval para isso poder funcionar", apela Manuel Gonçalves.
Quercus critica taxas
Ouvida pela TSF, a Quercus critica a forma como o Governo tem lidado com a praga, que chegou a Portugal em 2011. O presidente da associação ambientalista, João Branco, avisa que as taxas cobradas por alguns serviços municipais de Proteção Civil para retirar os ninhos estão a levar a população a fazer menos denúncias.
"Há uns anos as pessoas comunicavam que havia ninhos de vespa asiática e as autoridades iam lá retirar os ninhos de graça e hoje as autoridades pedem dinheiro para ir retirar os ninhos, o que faz com que muitas pessoas deixem ficar os ninhos, ou então tiram elas os ninhos de forma errada."
DGAV desvaloriza
Em resposta, a subdiretora da DGAV, Paula Carvalho, diz que as taxas cobradas pelas autarquias não impedem as queixas, mas lembra que cabe às câmaras decidir se cobram ou não para retirar os ninhos: "A competência atribuída às câmaras municipais para destruir os ninhos está prevista no Plano de Ação para a Vigilância e Controlo e cada câmara faz a sua gestão interna através de taxas ou do orçamento da autarquia que cobre as despesas associadas à destruição".
Plataforma incompleta
Passado um ano, a Comissão de Prevenção e Controlo criada pelo Governo admite que os dados nacionais sobre a vespa asiática estão incompletos porque há câmaras que ainda não aderiram à plataforma oficial onde é feito o registo de casos: "Os números da plataforma podem ser por defeito, porque há câmaras que ainda não esta a inserir na plataforma os ninhos que validaram e destruíram", diz Paula Carvalho.
Na prática, com a informação dispersa, é difícil saber com exatidão o número de ninhos em Portugal e os 3,5 mil identificados este ano na plataforma SOS Vespa podem estar longe dos números reais. A DGAV apela às autarquias para que recorram a esta plataforma, mesmo que façam registos internos, de forma a reunir o máximo de informação a nível nacional.