Praga de lagartas que ameaça provocar crise alimentar pode ser travada com pesticidas seguros
Peritos identificaram pesticidas mais seguros e mais eficazes que, acreditam, poderão controlar uma praga de lagartas que está a devastar colheitas por toda a África.
Muitos agricultores estão a tentar controlar a lagarta do cartucho – uma praga que se alimenta de milho, arroz e cana do açúcar – através do uso de pesticidas altamente perigosos. Os investigadores avisam que esses químicos representam um sério risco para a saúde e para o ambiente, e que alternativas sustentáveis devem ser oferecidas aos agricultores.
Um estudo abrangente de pesticidas que tendem a ser menos tóxicos, identificou oito alternativas que conseguem controlar as lagartas. Esses biopesticidas, afirmam os autores do relatório, podem ser provisoriamente registados pelos governos enquanto os ensaios são concluídos.
“O milho é uma cultura essencial em África e milhões de pessoas dependem dele para a sua alimentação. Este é um assunto de segurança alimentar”, declarou Roger Day do programa executivo Action on Invasives, no Centre for Agriculture and Bioscience Internacional (Cabi). “A maior parte dos biopesticidas que identificámos já estão registados, mas para outras pragas, pelo que só precisamos demonstrar que são eficazes contra a lagarta do cartucho”, disse Day. E isso é altamente provável, acrescentou ainda, visto que muitos dos produtos já são usados em diversos locais nas Américas.
A Food and Agriculture Organisation (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO) projetou que milhões de pequenos agricultores em África serão afetados pela lagarta do cartucho (também conhecida como lagarta do milho), que está presente em mais de trinta países do continente. De acordo com o Cabi, se não for controlada, esta praga poderá custar só às 12 maiores economias produtoras de milho em África, um total de 2,5 a 6,2 biliões de dólares anuais, em colheitas perdidas.
Estudos anteriores mostram que, mais que seis em cada dez agricultores no Gana e na Zâmbia aplicaram pesticidas, enquanto quase metade dos agricultores na Etiópia e Quénia também usaram sprays químicos. “Tradicionalmente, os pequenos agricultores não usam assim tanto pesticida”, afirmou Day, acrescentando que existe o risco dos agricultores comprarem químicos tóxicos, sem terem informação adequada nem equipamento de proteção.
A FAO tem desenvolvido uma estrutura que enfatiza alternativas aos pesticidas. Contudo, os custos são um grande obstáculo, com muitos pequenos agricultores a não terem possibilidades de adquirir produtos dispendiosos e, por outro lado, companhias que não estão dispostas a investir no registo de biopesticidas a não ser que vislumbrem a possibilidade de haver um mercado. “É uma espécie de beco sem saída, porque as pessoas não os podem adquirir se não estiverem disponíveis” acrescentou Day.
O estudo, publicado no Journal of Applied Entomology, examinou bibliografia relativa a 50 biopesticidas usados para controlar a lagarta do cartucho em África e nas Américas. Estes foram analisados de acordo com seis critérios incluindo a eficácia, segurança, sustentabilidade ambiental, disponibilidade e facilidade de utilização pelo agricultores. O estudo, suportado pelos governos da Alemanha e Reino Unido, identificou oito biopesticidas que deveriam rapidamente ter prioridade no seu registo para testes.
Os investigadores sugerem que os governos deveriam apoiar os agricultores subsidiando estas alternativas, abordagem que já foi adotada no Gana. Quando os biopesticidas comprovados não estiverem disponíveis, os governos também deveriam considerar parcerias com empresas do setor privado com a finalidade de impulsionar a produção local.