A máscara modificada: uma história sobre EPI
Ao longo dos anos que trabalhei como formador e consultor na área da aplicação de produtos fitofarmacêuticos encontrei pessoas e histórias que me ensinaram que a aplicação prática das regras nem sempre é igual à sua teoria. Ao partilhar aqui estas histórias espero estabelecer a ponte que falta, e que é tão necessária, entre a teoria e a prática.
Há uma sessão muito importante em qualquer curso de Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos: aquela em que falamos sobre Equipamento de Protecção Individual (EPI). Começo sempre com uma aposta: "Garanto que daqui a uns segundos, muitos de vós vão estar a rir." E depois pergunto: "Quem é que aqui usa máscara, luvas, fato protector, óculos e botas?". Segundos depois, uma gargalhada geral. Uma vez, a resposta foi ainda melhor. Depois do riso, alguém disse: "Eu uso sempre máscara, mas fiz um buraquinho por onde fumo o cigarro..."
É claro que a pessoa em causa não tinha bem a noção de que assim a máscara não fazia absolutamente nada, mas tirei daqui uma lição. O EPI deve ser sempre abordado numa discussão entre o conforto e a eficiência. Durante muitos anos, tivemos no mercado EPI garantidamente eficientes que ninguém conseguia usar num dia de verão (talvez nem num de Inverno). Ora por muito eficientes que fossem, se ninguém os usava, não tinham muita utilidade. Felizmente hoje há uma oferta mais bem pensada de EPI que têm em conta isto mesmo. No momento da escolha é importante ter em atenção, não só a garantia de que protege mas também que é utilizável. Para que não seja necessário abrir um furinho na máscara.
Não podemos esquecer que o EPI não é uma prioridade para a maior parte dos produtores aplicadores. Foi durante muito tempo associado a falta de coragem ou robustez masculinas. O novo modelo de trator ou alfaia é tema de conversa ou preocupação. O novo modelo de máscara de protecção não. É geralmente utilizado por obrigação legal ou para cumprir uma exigência de certificação de boas práticas. Mas se esta for a maneira de poupar a saúde dos aplicadores, a curto e a longo prazo, quem sou eu para discordar.