Fora do alcance das crianças
Um dia, depois da morte de um agricultor sem filhos nem mulher, os sobrinhos foram a casa dele para fazer as partilhas dos poucos bens que tinham ficado para herança. Debaixo da cama, encontraram os mais preciosos: dinheiro, roupa de cerimónia e algumas caixas de fungicida e insecticida para a horta. Esta história foi-me contada numa sessão de formação a propósito de como guardar os Produtos Fitofarmacêuticos. Este produtor levou o conceito de segurança um bocadinho mais além e houve até quem brincasse com a sua causa de morte.
Quando guardamos Produtos Fitofarmacêuticos devemos ter em conta duas coisas: segurança e condições de conservação. Segurança diz respeito ao risco que representam para quem nem sequer imagina o que são, tal como crianças, pessoas mal informadas, animais. Conservação tem a ver com o facto do produto ter de ser guardado de maneira a não perder a sua eficácia biológica. Não deixa de ser irónico que durante anos se guardassem na exploração maiores stocks do que hoje, em piores condições de conservação, de produtos genericamente mais tóxicos do que hoje com uma segurança mais descurada.
Como guardar em segurança tem uma resposta tão simples quanto velha (e não é debaixo da cama): guardar os Produtos Fitofarmacêuticos fora do alcance das crianças e animais, de preferência em local fechado à chave. Quanto às alternativas "numa prateleira muito alta" e "num armazém onde ninguém entra", respondo com o ainda e sempre elevado número de intoxicações inadvertidas em crianças nas zonas rurais.
Relativamente à conservação, basta lembrar que estamos a lidar com produtos químicos, sujeitos a reações que nem sempre conhecemos, e que devemos tomar precauções com o calor e a humidade. Evitar a luz solar direta e garantir uma ventilação adequada é habitualmente suficiente.
Para terminar, mantenham por perto algumas soluções para quando algo corre mal: um extintor adequado, balde, pá e areia para absorver derrames e um pequeno estojo de primeiros socorros. Simples. Não é necessário dormir por cima.
Hugo Pires