Uma questão de confiança
Numa visita a um produtor de feijão verde, um colega meu verificava quais os últimos tratamentos fitossanitários que tinham sido feitos. O agricultor respondeu que aplicara um inseticida um ou dois dias antes, ao que o técnico respondeu "Mas o senhor vai começar a colher amanhã e a vender no mercado... Aplicou em tudo?". A resposta foi inesquecível: "Aquele talhão não, que são para comer cá em casa".
O Intervalo de Segurança, que neste caso fora alegremente ignorado, pode ser visto como um contrato entre três pessoas, composto por um conjunto de perguntas que não são feitas mas para as quais queremos resposta.
Se formos um consumidor de fruta ou legumes queremos que, no ponto de venda, o produtor desses produtos nos garanta que eles não vão prejudicar a nossa saúde. Nós não o conhecemos, nem ele não está lá para nos responder. Mas existe um sistema que nos diz que ele cumpriu o Intervalo de Segurança. Logo o produto não é prejudicial.
O mesmo produtor (não o da história), por sua vez pergunta como pode garantir que o seu produto não vá causar danos. A questão é que taxas de degradação, influência da temperatura e da chuva ou outros factores, que levam os resíduos de Produtos Fitofarmacêuticos a diminuir, não podem ser analisados no dia a dia da exploração agrícola. Ele apenas sabe, confiando no fabricante dos Produtos Fitofarmacêuticos, que, se cumprir um número mínimo de dias entre a última aplicação do produto e a colheita, tudo estará bem.
É fundamental lembrar que o Intervalo de Segurança depende de vários factores. Da cultura onde é aplicado e da forma como esta é consumida. Mas há coisas em que é absoluto: não depende de quem come o fruto ou o legume. Nesse aspeto somos todos iguais. Tanto os familiares do agricultor como os clientes que vão comprar no mercado no dia seguinte.
Hugo Pires