publicado a: 2024-04-23

As chaves para o sucesso na produção de nozes

A necessidade de produzir nozes de qualidade é uma ideia que está a ganhar força como forma de se diferenciar o produto face à queda de preços que a noz tem sofrido nos últimos anos nos mercados internacionais, uma vez que dos 4 euros que se pagava por quilo em média em casca em 2014, atingiu-se um intervalo de 2 e 2.5 euros atualmente. O preço mundial da noz não é uma variável que possamos controlar, porque não depende de nós, por isso, perante um cenário um pouco mais difícil como o que estamos a viver, a gestão do pomar e da colheita é fundamental.


1. ESTUDO DO CLIMA E SOLO

Tudo o que é feito nesta fase garante o aumento da vida útil do pomar e a sua produtividade. Uma vez plantado, é praticamente impossível corrigir os erros, apenas conseguimos reduzir os efeitos negativos. Os fatores mais importantes que determinam a possibilidade de desenvolver uma plantação de nogueiras com boa projeção produtiva são: o solo, o clima e água.

É fundamental plantar um pomar de nogueiras onde o clima e o solo são adequados ou onde a combinação de ambos é adequada. Mas independentemente da qualidade do solo onde a cultura é colocada, a preparação do solo é uma operação essencial a ter em conta e a subsolagem é uma tarefa obrigatória para um pomar que se pretende que dure 20 a 30 anos. A nogueira requer solos de textura média, profundos e bem drenados. Trata-se de uma espécie muito sensível à asfixia radicular. A falta de oxigénio no solo provoca a paragem do crescimento das raízes e a sua danificação direta. Estas condições predispõem igualmente ao ataque de fungos do solo, principalmente Phytophthora spp.

Para uma boa implantação de um pomar, devemos ter em conta que o solo deve ter pelo menos uma profundidade efetiva de 1 a 1.5 metros, e ter em conta as suas limitações tais como: estratos impermeáveis, salinidade, lençol freático, compactação.

As nogueiras comportam-se bem com temperaturas amenas na primavera e invernos entre 500 e 1000 horas de frio, consoante a variedade. As temperaturas extremas podem afetar gravemente a produção. Uma vez iniciado o crescimento na primavera, as folhas, os rebentos, as flores e os frutos jovens são facilmente danificados por temperaturas inferiores a 0°C, pelo que as nogueiras não devem ser plantadas em locais onde ocorram geadas na primavera.


2. O SISTEMA DE REGA DEVE SER DIMENSIONADO PARA A PRODUÇÃO TOTAL

O sistema de rega deve ser dimensionado para o momento de plena produção e deve garantir a disponibilidade de recursos hídricos.

O sistema de rega que melhor se adapta às nossas condições é o de rega gota-a-gota. Embora o sistema microaspersão seja melhor para o período de colheita, pois em termos logísticos facilita o seu processo, no resto do tempo só tem desvantagens.

A reposição da precipitação deve ser de 6,5 a 8,5 milímetros/dia, dependendo da zona onde se encontra a cultura: atinge 8,5 mm/dia num local com evapotranspiração muito elevada e 6,5 milímetros nas zonas de clima mais ameno. Ao mesmo tempo, a precipitação - a quantidade de água distribuída pelo equipamento por hora - deve ter como objetivo 2,5 milímetros por hora.

Como regar? Regas longas e distantes. É muito importante determinar o tempo necessário para cobrir o perfil do solo e a rega deve ser uniforme e repetida de acordo com a quantidade de água que o pomar necessita. É preciso encher o perfil do solo e deixar que a planta retire a água de forma homogénea. Para regar mais, é aconselhável aumentar a frequência, e não o número de horas dedicadas a cada sessão, estimando a duração da humidade superficial em função do estádio fenológico das plantas, das condições climáticas e da textura do solo.

Para verificar a quantidade de água a fornecer, antes da próxima rega, é necessário analisar a humidade real do solo e se é possível esperar mais alguns dias antes de voltar a regar. A abertura de perfis é muito importante na primavera e no outono, quando se verificam alterações mais drásticas das condições climáticas.


3. FORMAÇÃO: UMA ESTRUTURA DE PRODUÇÃO EFICIENTE

A formação é uma etapa que pode durar até quatro ou cinco anos. O principal objetivo é obter uma árvore com o tamanho correto e um pomar o mais homogéneo possível, tendo em conta vários objectivos-chave: obter árvores eficientes, produzir frutos de bom calibre e, finalmente, atingir um elevado rendimento por hectare.

Neste contexto, a poda de formação que é realizada desde a plantação até ao quinto ano tem como objetivo orientar a planta e gerar uma estrutura produtiva eficiente o mais cedo possível. Recomenda-se a utilização de um sistema com plantas mais pequenas, com o objetivo das plantas crescerem de forma equilibrada, concentrando-se no desenvolvimento de um bom sistema radicular e de um tronco espesso, para que possa depois crescer de forma sustentada.

Dada a importância económica das primeiras produções de nozes num projeto de plantação de nogueiras, é muito importante maximizá-la ao máximo. Estas produções nas primeiras fases são determinadas pelo crescimento da estrutura (centros produtivos, ramos e galhos) e pela quantidade de pólen disponível no pomar. Só a partir do quinto ano é que o pomar é capaz de produzir todo o pólen de que necessita, sendo a produção anterior condicionada pelo pólen disponível na zona. No caso de pomares isolados em zonas produtoras de nozes, a produção situar-se-á na parte inferior da gama de produção e, no caso de pomares situados em zonas com uma forte presença de nogueiras, situar-se-á perto da gama de produção elevada.


4. A REGA E A NUTRIÇÃO SÃO ESSENCIAIS PARA A FORMAÇÃO DO SISTEMA RADICULAR.

O processo de formação deve também ter em conta as raízes das nogueiras, para as quais a rega e a nutrição são essenciais. Ao optar-se por regas curtas e contínuas, as raízes estarão localizadas nos primeiros 40 centímetros, mas se optarmos por regas longas e distantes (e que correspondem às que estamos a implementar hoje em dia) o sistema radicular cobre todo o perfil do solo e este seca homogeneamente.

A evolução do sistema radicular deve ser objeto de um acompanhamento constante. É necessário realizar a abertura de perfis para controlar a humidade do solo, mas também verificar se existe uma distribuição homogénea das raízes. Se existirem zonas onde há muitas raízes e outras onde há poucas, as primeiras secam rapidamente e as outras não. É aí que começam os problemas, porque quando são regadas as zonas onde existem menos raízes, estas ficam saturadas mais rapidamente e a phytophthora começa a instalar-se.

O foco deve ser a promoção do sistema radicular, pois se houver um problema relacionado com o sistema de rega e as raízes se estenderem apenas até 40 centímetros, as plantas estarão sob stress ao fim de dois dias, ao contrário do que acontece com sistemas radiculares de 1,8 metros de profundidade, que dão tempo para resolver quaisquer problemas com a escassez de água. Quanto maior for o sistema radicular, maior é o potencial produtivo, porque é aí que estão as reservas da árvore de uma estação para a outra. Tudo o que está relacionado com a brotação e a frutificação é proveniente das reservas do ano anterior.

Em termos de nutrição, é necessário ter em conta o que foi a colheita anterior e o que se pretende produzir na colheita atual, para determinar a quantidade de fertilizante a utilizar. Assim, um programa básico de solos deve incluir a aplicação de azoto (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e zinco (Zn). Este programa standard deve basear-se também nos níveis de nutrientes obtidos na leitura de amostras foliares e de solo, de forma a fazer um plano eficiente, equilibrado e sustentável.

No caso das aplicações foliares, deve previligiar-se a aplicação de zinco, magnésio, potássio e cálcio. E nos bioestimulantes, utilizar produtos à base de algas e aminoácidos.


5. COLHEITA

A aspiração legítima de qualquer produtor, após 7 meses de trabalho árduo, é obter o melhor preço possível para as suas nozes. É óbvio que quanto melhor for a qualidade do produto entregue, maior será o preço obtido, mas o que não é óbvio é o enorme impacto que a colheita, o descasque e a secagem têm na qualidade e no preço final das nozes. É precisamente nas últimas três semanas da época que se cometem mais erros que afetam negativamente o preço das mesmas.

O nivelamento das entrelinhas é essencial para uma boa operação de colheita mecanizada, bem como um controlo eficaz das infestantes para garantir uma superfície limpa e livre de qualquer material estranho, como o material de poda.

Para evitar contaminações cruzadas e/ou afetar a qualidade média dos nossos frutos, antes da colheita é importante recolher todos os frutos da colheita anterior, que possam ter ficado no chão, ou os frutos da época em curso, que caíram precocemente devido a problemas de qualidade (danos causados por insetos, danos causados pelo sol, aborto, etc.).

A presença de lepidópteros, tanto como o bichado da fruta (Cydia pomonella) como da traça da alfarroba (Ectomyelois ceretoniae), deve ser vigiada e controlada. É preciso compreender que se trata de espécies diferentes, com ciclos de vida diferentes, pelo que o seu controlo deve ser diferenciado. Quando a abertura da casca começa a ocorrer, a Ectomyelois tem a capacidade de penetrar na casca, perfurando o mesocarpo, causando grandes danos no interior do fruto.

Independentemente do sistema de rega utilizado, é essencial que a árvore tenha um bom abastecimento de água antes e durante a colheita, pelo que se recomenda uma rega profunda antes do início da colheita e antes da queda natural dos frutos.

Tem-se verificado que em anos com temperaturas mais elevadas durante o período de colheita, a percentagem de cores escuras aumenta drasticamente. A melhor forma de mitigar este problema é manter um estado hídrico adequado no interior da árvore, uma vez que a transpiração da árvore atua como um sistema refrigeração que reduz a temperatura interna do fruto.

Para além disso, para conseguir uma boa abertura da casca, é necessário que o fruto esteja completamente hidratado, caso contrário a casca verde irá colar-se à casca do fruto e tem dificuldade em abrir.

Por último devemos rever e preparar todos os equipamentos e máquinas que irão participar no processo de colheita, descasque e secagem. Em muitos casos a colheita representa menos de um mês de trabalho e não podemos dar-nos ao luxo de que algo falhe durante a colheita. É também aconselhável ter um stock de todas as peças sobressalentes que possam ser críticas no funcionamento dos equipamentos, de forma a não depender da rapidez de resposta dos fornecedores.

Os secadores têm de estar disponíveis para que as nozes não esperem mais de 24 horas para serem secas depois de colhidas, porque a sua degradação é muito rápida. As temperaturas de secagem não devem ser superiores a 38°C (idealmente 35ºC) e deve-se tentar homogeneizar o processo. Finalmente, no que diz respeito ao armazenamento, este deve ser feito num local limpo e seco, fumigando as nozes armazenadas durante mais de 15 dias e fazendo-o pelo menos duas vezes se o armazenamento durar seis meses.


Um artigo de:
Manuel Machadinha

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