Os verões vão mudar completamente com o aquecimento global
O alerta já foi feito pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, em 2018, sobre os impactos da subida da temperatura em 1,5º Celsius. Agora, um novo estudo vem informar que se o percurso das emissões actuais se mantiver, o aumento dos dois graus Celsius poderá ser alcançado em meados deste século com possibilidade de chegar aos três graus Celsius.
Se a temperatura média global do planeta aumentar 2 graus centígrados face aos níveis pré-industriais, as ondas de calor, secas e períodos de chuvas no verão poderão ser mais longos na Europa, na América do Norte e em algumas partes da Ásia.
O alerta já foi feito pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), em 2018, sobre os impactos da subida da temperatura em 1,5 graus centígrados até ao final do século XXI. Na altura, o IPCC alertou que com um esforço significativo ainda seria possível limitar a subida da temperatura. Agora, um novo estudo vem informar que se o percurso das emissões actuais se mantiver, o aumento dos dois graus Celsius poderá ser alcançado em meados deste século e podemos mesmo chegar aos três graus Celsius.
A informação avançada num artigo da revista Nature Climate Change informa que, ao longo deste estudo cientistas da Alemanha, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos comparam projecções de diferentes modelos climáticos e, com base no aumento de cerca de um grau Celsius da temperatura média global (GMT, sigla em inglês) face aos níveis pré-industriais, criaram dois cenários futuros.
No primeiro cenário, a GMT aumentaria 1,5 graus centígrados de acordo com os níveis pré-industriais, e no outro subiria dois graus, o cenário que detém consequências mais graves e duradouras. Este novo estudo é o primeiro a quantificar o aumento e a durabilidades desses eventos se as temperaturas subirem mais um grau Celsius.
De acordo com a revista científica, os períodos meteorológicos quentes mais longos do que duas semanas aumentarão cerca de 4% nas latitudes médias do hemisfério Norte comparados com os do clima actual.
“Nós conseguimos ver uma mudança significativa nas condições climáticas do verão”, disse o autor principal do estudo, Peter Pfleiderer, investigador na Universidade Humboldt, em Berlim. “Fenómenos meteorológicos extremos poderão tornar-se mais persistentes – tanto períodos quentes e secos como dias consecutivos de chuva intensa poderão ser mais longos”, realça Peter Pfleiderer, do instituto alemão Climate Analytics e um dos autores do trabalho, num comunicado da sua instituição.
Na zona mediterrânica, verifica-se uma diminuição do índice padronizado de precipitação nos três meses anteriores, um decréscimo da faixa onde ocorrem tempestades e um aumento da aridez dos solos, o que “provavelmente contribui para um aumento de uma seca persistente”, segundo o artigo científico. Em Portugal, o cenário de seca extrema já é real. Em maio deste ano, a Associação Natureza de Portugal, representante do Fundo Mundial para a Natureza (ANP/WWF), alertou que Portugal “está a viver além da água que tem”. De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), no final de maio, 98% do território estavam situação de seca meteorológica, sendo que cerca de 37,5 % estava nas classes de seca severa e extrema. Em fevereiro, os números eram apenas de 4,8%.
Em termos de fenómenos meteorológicos extremos, o estudo sugere que poderá ser mais acentuado no Leste da América do Norte, na Europa Central e no Norte da Ásia. Mais especificamente, os períodos de muito calor e seca mais longo que duas semanas poderão ser 10% mais prováveis na América do Norte Central. Já períodos de chuva intensa poderão ser 26% mais elevados em toda a zona temperada do hemisfério Norte comparados com o clima actual, o que poderá levar a mais cheias.
Caso isso venha mesmo a acontecer e os fenómenos extremos no verão se tornarem mais duradouros e intensos, haverá impactos “significativos” na saúde, nos ecossistemas, na agricultura e na economia, reforça-se no comunicado.