Conferência na Madeira aponta caminhos para os Jovens Agricultores
A visão da Sociedade sobre a Agricultura mudou de forma radical, assumindo hoje em dia um tom de otimismo, ambição e futuro. Estas foram as palavras mais ouvidas na Conferência Jovem Agricultor, que reuniu cerca de 300 pessoas na Madeira, a 25 de Novembro.
Os jovens agricultores portugueses contribuem com 20% do valor (VAB) da Agricultura, apesar de representarem apenas 2% da população ativa do setor, a percentagem mais baixa da União Europeia.
A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) reuniu na Calheta, Madeira, um conjunto de conhecidas personalidades da vida política e empresarial portuguesa para discutir os novos horizontes e paradigmas dos Jovens Agricultores.
Marques Mendes, um histórico do PSD, afirmou que a agricultura é hoje «um setor em alta e com futuro e não apenas uma moda», explicando que a crise alimentar de 2008 ajudou a criar um novo olhar sobre a agricultura, que voltou a estar na agenda política e social em Portugal.
Na qualidade de comentarista ao painel de debate, onde intervieram António Correia de Campos, Daniel Bessa, Augusto Mateus, Ângelo Correia, Maria do Céu Patrão Neves e Martim Avillez Figueiredo, Marques Mendes elencou as funções vitais da agricultura na Sociedade portuguesa: ajuda ao crescimento económico do país, colmatando o défice alimentar nacional e contribuindo para o aumento das exportações, essencial à coesão do território e ao equilíbrio social, ajudando a fixar as populações no mundo rural.
Apesar do quadro otimista, os desafios dos Jovens Agricultores são muitos: custo da terra e capital, inovação, tecnologia, mercados, internacionalização, segurança alimentar e bem estar animal, sustentabilidade e ambiente.
A Agricultura deu um salto qualitativo e está num novo patamar de exigência, mas continua a defron- tar-se com fragilidades ao nível da tesouraria e da capacidade de gestão das empresas, reconheceu Gabriela Freitas, ex-gestora do PRODER, programa de Desenvolvimento Rural que antecedeu o atual PDR2020. «Os jovens agricultores precisam de ter no Governo um parceiro previsível, que canalize ver- bas para a tesouraria das empresas, porque não há investimento sem gestão de expectativas, ou seja, previsibilidade», concretizou.
Ideia reforçada pelo Diretor-Geral da AJAP, Firmino Cordeiro, segundo o qual a agricultura é «uma atividade que exige investimentos avultados, com retornos mais ou menos longos, que precisa de quadros legislativos e de apoio ao investimento estáveis, que inclusive possam ultrapassar os ciclos políticos».
A aposta na formação e qualificação das novas gerações é essencial, e na perspetiva da AJAP é neces- sário assegurar que os futuros agricultores permaneçam na atividade, agindo, para diminuir a elevada taxa de insucesso de muitos projetos de investimento, por falta de acompanhamento adequado aos jovens empreendedores. Este acompanhamento deve comtemplar a definição de planos de longo prazo para os seus projetos, de forma a reduzir o encerramento das novas empresas agrícolas a níveis aceitáveis.
Na Conferência esteve também presente o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, que sublinhou a importância do associativismo para defender as posições do setor perante as instân- cias políticas nacionais e comunitárias. João Machado recordou que a Política Agrícola Comum (PAC) gasta apenas 1% do seu orçamento com a Agricultura, quando os agricultores prestam um serviço inestimável aos cidadãos europeus, garantindo alimentos seguros e de qualidade, a um preço acessível.
«Temos que lutar por mais Europa, por regras e políticas de tratados de comércio internacional mais coerentes com o que defendemos enquanto europeus – ambiente, bem-estar animal, segurança alimentar», disse o Presidente da CAP.
Perspetivando a PAC pós-2020, onde o setor vai lutar por manter o orçamento para a agricultura, o ex-ministro da Agricultura Arlindo Cunha, antecipou que possa vir a existir um terceiro pilar de apoios relativo ao pagamento dos bens públicos, ou seja, a compensação aos agricultores pelo serviço público prestado à Sociedade: combate à desertificação, ordenamento do território, segurança alimentar, entre outros.
O presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, deixou uma mensagem de otimismo, lembrando que «Portugal terá todos os benefícios da posição periférica na Europa, se assumir o seu posicionamento geopolítico no Atlântico, explorando melhor as relações comerciais com o continente americano».