publicado a: 2014-12-22

FAO: Cultivar cereais de forma mais sustentável

Os sistemas agrícolas baseados na produção de cereais devem ter em conta a sua transição para uma agricultura sustentável, se pretende dar uma resposta total à procura de produtos como o milho, o arroz e o trigo. Esta foi uma das mensagens chave destacadas na reunião organizada pela FAO e que juntou vários especialistas em produção agrícola.

A FAO estima que, nos próximos 35 anos, os agricultores necessitarão de aumentar a produção anual de milho, arroz e trigo até aos 3.000 milhões de toneladas, 500 milhões de toneladas mais do que o recorde de colheitas combinadas alcançado em 2013.

E terão que o fazer com menos água, combustíveis fósseis e produtos agroquímicos, em solos agrícolas que estão desde já muito degradados devido a décadas de produção intensiva, e enfrentando secas, novas ameaças de pragas e doenças, e fenómenos meteorológicos extremos provocados pelas alterações climáticas.

Os especialistas assinalaram na reunião que esse desafio apenas poderá ser superado com uma agricultura ecológica que consiga uma maior produtividade conservando os recursos naturais, adaptando-se à mudança climática, e oferecendo benefícios económicos aos 500 milhões de pequenas explorações agrícolas familiares repartidas pelo mundo.

A reunião de Roma centrou-se no milho, no arroz e no trigo devido ao facto destes três cultivos serem fundamentais para a segurança alimentar mundial, pois representam 50% do fornecimento da energia alimentar da população. Os cereais são também cada vez mais vulneráveis: estima-se que as tendências do clima desde 1980 reduziram a colheita anual mundial de milho em 23 milhões de toneladas, e a de trigo em 33 milhões de toneladas

Na Ásia, a degradação dos solos e a acumulação de toxinas nos sistemas intensivos de produção do arroz são motivo de preocupação, devido à desaceleração no aumento da produtividade, o que demonstra uma deterioração em torno do crescimento das culturas.

Neste encontro da FAO, ficou acordado que a agricultura não pode depender desde já de um fornecimento intensivo de inputs para aumentar a produção. As variedades de milho, arroz e trigo devem ser acompanhadas pelo que a FAO denomina sistemas agrícolas “Poupar para crescer”, que mantêm o solo são, integram a produção de cultivos, árvores e animais, utilizam a água de forma muito mais eficiente, e protegem os cultivos com o manuseamento integrado de pragas.

Exemplos de agricultura baseada nos ecossistemas

As comunicações apresentadas na reunião supuseram um inventário de tecnologias e práticas agrícolas baseadas nos ecossistemas que demonstraram a sua validez, entre as quais:

No Vietnam, mais de um milhão de pequenos agricultores adotaram o Sistema de intensificação do arroz (SRI), que produz elevados rendimentos utilizando menos fertilizante, água e sementes do que o arroz de regadio convencional.

Na China, a plantação de variedades de arroz geneticamente diversas no mesmo arrozal reduziu a incidência de doenças fúngicas de forma significativa – em comparação com o arroz no monocultivo – que muitos agricultores conseguiram evitar a aplicação de fungicidas.

No sul da Índia, o manuseamento de nutrientes de forma específica para cada lugar – que faz coincidir as quantidades de nitrogénio com as necessidades reais das plantas – reduziu as aplicações e os custos com fertilizantes, ao mesmo tempo que se aumentou o rendimento do trigo em 40%.

No Zimbabué, a agricultura de conservação ajudou os pequenos agricultores a produzir até oito vezes mais milho por hectare que a média nacional.

Os agricultores da Zâmbia cultivam árvores de acácia, Faidherbia albida, próximo aos seus campos de milho e utilizam as suas folhas ricas em nitrogénio como fertilizante natural e cobertura vegetal protetora durante a temporada de chuvas, o que fez triplicar os rendimentos.

Uma necessidade clara assinalada durante a reunião foi dar um maior apoio aos pequenos agricultores para adaptar práticas agrícolas baseadas nos ecossistemas e condições locais.

O fórum da FAO contou com a participação de 50 especialistas em produção agrícola de instituições como Africa Rica, o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), a FAO, o Centro internacional de investigação agrícola nas zonas secas (ICARDA), o Instituto Internacional para o Manuseamento de Água (IWMI), o Instituto Internacional de Investigação sobre o Arroz (IRRI), e organismos de desenvolvimento agrícola da Ásia e América Latina. As suas conclusões serão apresentadas num guia para os responsáveis políticos “Poupar para crescer: milho, arroz e trigo”, que será publicado em 2015.

Fonte: Agrotec

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