Lisboa vai ter vinha ao pé do aeroporto
O avião baixa os flaps e prepara-se para fazer a aproximação a uma das pistas do aeroporto de Lisboa. Com o trem de aterragem já em baixo e a aeronave a roçar a barriga nos prédios, o comandante anuncia aos passageiros que podem olhar pela janela e ver uma vindima a decorrer. O espectáculo é incrível: cá em baixo veem-se dezenas de pessoas dobradas, a cortar uva numa vinha rodeada de prédios… e estradas.
Ficção científica? Nada disso. A região de Lisboa vai mesmo ter uma vinha localizada… dentro da própria cidade. A vinha ainda não tem nome mas vai ficar instalada na freguesia de Marvila, junto à chamada Rotunda do Aeroporto e perto do terreno onde se costuma realizar o Rock in Rio. Se considerarmos os preços de terreno (se este fosse urbanizável, claro), a vinha de Marvila seria certamente – e de longe - a mais cara de Portugal! Já agora, o terreno não é urbanizável porque tem uma colina que, a ser urbanizada ou florestada, entraria em conflito com o acesso dos aviões às pistas do aeroporto.
Não estamos a falar de meia dúzia de pés de videira, mas antes de uma quantidade considerável: mais de 20.000 metros quadrados ou, se quisermos usar a medida mais conhecida na agricultura, dois hectares e picos. O suficiente para, num bom ano, dar mais de 10.000 garrafas de vinho (desde que o produtor consiga colher as uvas…).
A iniciativa desta vinha partiu da Câmara Municipal de Lisboa, que está a promover a criação de espaços verdes na capital, e os chamados “corredores verdes”, que permitirão, quando terminados, que as pessoas possam fazer grandes trajectos sem sair de caminhos ‘verdes’.
Foi a Câmara de Lisboa que cedeu os terrenos à Casa Santos Lima (CSL), um grande produtor de vinhos desta região. Em contrapartida, a CSL terá a seu cargo a preparação do terreno, o plantio das vinhas e a sua exploração, bem como a construção de uma casa de apoio e de uma cerca. José Luis Olveira e Silva, o proprietário da Casa Santos Lima, disse-nos que à partida a vinha será baseada em Touriga Nacional e Arinto, mas que poderá ter ainda um toque de uma casta chamada Tinta de Lisboa, parecida com o Bastardo. Volume do investimento: 100 mil euros, mais cêntimo, menos cêntimo.
José Luis Oliveira e Silva disse-nos ainda que a vinha será plantada em Fevereiro/Março de 2015. Será a segunda a existir dentro de Lisboa. A outra, de dimensão semelhante, está no Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda. A cidade de Lisboa vai ter assim cerca de 5 hectares de vinha dentro da cidade, um feito que será quase inédito em termos de capitais do mundo. Outra utilização do espaço vai para a formação, como campo didático para alunos de escolas, por exemplo.
Quando tiver a primeira colheita, José Luís Oliveira e Silva irá fornecer anualmente 600 garrafas à Câmara Municipal de Lisboa e mais uma centena para a Junta de Freguesia de Marvila. Nada de impossível para a CSL, de longe o maior produtor da região de Lisboa a certificar vinho: a empresa é responsável por cerca de um terço de todos os selos que saem da CVR de Lisboa (!). E produz mais de 10 milhões de litros anualmente (com uma qualidade média assinalável, diga-se), a maioria dos quais vai para exportação. A CSL tem crescido todos os anos e recentemente adquiriu as antigas instalações do IVV no Carregado, onde irá fazer estágio e armazenamento de vinhos, depois de revestir os enormes depósitos de cimento a epoxy, para evitar contaminações e preservar a higiene dos vinhos. Ao mesmo tempo José Luis Oliveira e Silva está prestes a inaugurar uma nova adega na sua Quinta da Boavista (Merceana), que, conta quem já viu, é um modelo de funcionalidade e estética.
Fonte texto e imagem: Revista de Vinhos