Sustentabilidade será o core da alimentação do futuro
O Futuro da Alimentação esteve em debate no 7.º Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar e a sustentabilidade é o centro, com (quase) tudo a girar em seu redor. O uso da tecnologia será também um ponto fundamental, em toda a cadeia agroalimentar, desde a produção ao consumo, passando pelo processamento, logística e relação com o consumidor.
Em debate, no Convento do Beato, estiveram quatro temas centrais: inovação, empreendedorismo, digital e economia circular. Debates, com o Futuro da Alimentação, por mote, e tendo a sustentabilidade como ‘pano de fundo’.
Os vários oradores e participantes – de áreas tão diversas como a agricultura, a consultoria, a tecnologia e o capital de risco, além do agroalimentar – salientaram a importância fundamental que a tecnologia vai ter na produção e transformação de alimentos sustentáveis, saudáveis, que satisfaçam as necessidades dos novos consumidores e sejam suficientes para os dez mil milhões de habitantes que o Planeta deverá ter em meados do século.
O desafio é grande mas Jorge Tomás Henriques destacou, na abertura do Congresso, que “ao longo dos seus 32 anos de existência, a FIPA antecipou com energia e determinação os vários desafios que foram sendo colocados às nossas empresas, seja nas vertentes da produtividade e segurança alimentar, como nas crescentes exigências dos consumidores e nos emergentes debates da sociedade, que assentam no papel da alimentação e da nutrição na promoção da saúde, no bem-estar das populações e na sustentabilidade”.
O presidente da FIPA frisou a importância da indústria portuguesa agroalimentar, que deverá ultrapassar, em 2019, os 17 mil milhões de euros em volume de negócios, dos quais cinco mil milhões “são fruto do trabalho ao nível das exportações, representando 19% do total da indústria transformadora”.
Esta indústria é composta por um universo de mais de 11 mil empresas e responsável por cerca de 115 mil postos de trabalho diretos e 500 mil indiretos.
“Não aceitamos que a indústria agroalimentar continue a ser o ‘bode expiatório’”
Jorge Tomás Henriques – dirigindo-se ao secretário de Estado da Defesa do Consumidor, que representou o ministro Adjunto e da Economia na abertura o Congresso – deixou um alerta: “Medidas de caráter unilateral e impositivas por parte do Governo ou do Parlamento terão consequências de muito menor alcance ao nível da saúde pública”, acrescentando que “é por tudo isto que não aceitamos que a indústria agroalimentar continue a ser o ‘bode expiatório’ de todos os problemas relacionados com a saúde”.
O presidente da FIPA disse ainda esperar que “para o nosso setor em particular e após os compromissos de reformulação, fique definitivamente afastada, no próximo orçamento do Estado, a ameaça de impostos especiais ao consumo e que haja vontade política de eliminar o imposto discriminatório que foi aplicado às bebidas refrescantes”, concluiu.
Logo a seguir, o secretário de Estado da Defesa do Consumidor manifestou a disponibilidade “inequívoca” do Governo para o diálogo entre os vários envolvidos na cadeia agroalimentar no sentido de trabalhar a superação dos vários desafios presentes e futuros.
João Torres destacou a “importância estratégica” desta indústria na dinamização da economia nacional, afirmando: “Portugal pode orgulhar-se da sua indústria agroalimentar” que “tem vindo a registar um dinamismo crescente e uma boa performance tanto no mercado nacional como nos mercados internacionais”.
O governante referiu também as mudanças que a indústria tem realizado e terá de continuar a levar a cabo “para corresponder aos desafios impostos pela escassez de recursos e alterações climáticas”, num contexto em que “as escolhas dos consumidores têm um papel fundamental”.
Um futuro com (quase) tudo novo
Ainda na sessão de abertura, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), salientou que o tema da tecnologia será fundamental no futuro, “não é uma opção”, porque as empresas vão ter de lidar com “novos produtos, novos processos, novas ferramentas de negócio e novas formas de se relacionar com os consumidores”.
António Saraiva referiu ainda um estudo da CIP sobre o mercado de trabalho no País, onde se conclui que “cerca de 1,8 milhões de trabalhadores terão de melhorar as suas competências ou mudar de emprego até 2030”.
A encerrar a sessão, o diretor-geral da FIPA, Pedro Queiroz, leu uma mensagem do Presidente da República, onde Marcelo Rebelo de Sousa saudou o tema do 7.º Congresso da FIPA considerando ser de “importância fundamental”.
Dietas saudáveis são a solução
Francisco Avillez, coordenador da Agro.Ges, empresa que teve a responsabilidade de elaborar o Relatório Setorial da Agricultura no Roteiro para a Neutralidade Carbónica em 2050, entregue recentemente ao Governo, que aprovou no início de junho em Conselho de Ministros o RNC 2050, salientou que a indústria agroalimentar enfrenta o grande desafio de alimentar, de forma sustentável, dez mil milhões de pessoas, e adiantando que “se espera que a população continue a crescer, embora de forma mais lenta”. O professor catedrático emérito da Universidade de Lisboa citou ainda um estudo recente da revista Lancet, que indica que “hoje cerca de 50% da população mundial vive em cidades, mas em 2050 será um terço” e chamou também a atenção para o envelhecimento da população e para a escassez de recursos, nomeadamente terra e água.
Por isso, a Lancet diz que “no futuro as dietas saudáveis serão a única forma de alimentar a população mundial”, produzindo mais com menos, usando a Agricultura de Precisão e outras tecnologias ao nosso dispor, e reduzindo drasticamente o desperdício, a par de uma aposta na economia circular.
“A aposta tem de ser em cenários win/win, onde ganha a saúde humana e a ‘saúde’ do Planeta”, defendeu Francisco Avillez, acrescentando que isso será possível “com um compromisso ‘tipo Acordo de Paris’ mas para a promoção destas dietas saudáveis [identificadas pela Lancet], bem como um modelo tecnológico e sustentável de produção, permitindo assim reduzir para menos de metade as perdas e desperdícios”.
Mas o coordenador científico da Agro.Ges frisou que a sustentabilidade de que se fala tem de ser entendida no seu todo – ambiente, economia e sociedade – “não é possível resolver o problema da alimentação a nível mundial se não se resolver o problema das desigualdades sociais”.
Tecnologia pode ter o maior impacto
Também Pedro Miguel Silva citou o ‘EAT – Lancet report’, salientando que é o resultado de um trabalho de três anos realizado por uma equipa de 37 especialistas. O associate partner for Strategy & Operations da Deloitte, que fez a apresentação condutora, “O papel da tecnologia no Futuro da Alimentação”, do 1.º painel – dedicado ao tema da “Inovação: os desafios da cadeia de valor” –, salientou que o estudo abriu caminho para “identificar o que é necessário que as empresas façam”
Segundo o responsável, “as três estratégias sugeridas [alterações dos hábitos alimentares; avanços tecnológicos e redução do desperdício] atuam sobre diferentes parâmetros, sendo a inovação tecnológica a que apresenta um maior potencial de redução do impacto ambiental”, em toda a cadeia de valor agroalimentar, desde a produção ao consumo, passando pelo processamento, logística e preparação.
Pedro Miguel Silva explicou o papel que a tecnologia pode desempenhar em cada uma destas áreas da cadeia de valor, dando exemplos de empresas portuguesas (como a Agroop, a Portugal Bugs, a Black Block, a BitCliq, a Mellow, o Mercadão e a EntoGreen), que estão já a avançar para este ‘futuro’.
Depois da apresentação juntaram-se a Cristina Esteves (moderadora dos vários painéis do Congresso) e a Pedro Miguel Silva para o debate, José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC); Luís Pinto de Andrade, professor coordenador do Instituto Politécnico de Castelo Branco; Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente; e Rui Silva, CEO da Nobre e vice-presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC).
Inovação é a chave
José Palha começou por dizer que os agricultores estão conscientes de que têm de ser inovadores, “temos de ser eficientes na utilização dos recursos, usando a inovação e a tecnologia, para produzirmos mais com menos e mais barato”, salientando que “a preocupação ambiental é um ato de cidadania”.
Já Luís Pinto de Andrade lembrou que “79% do tecido empresarial nacional é composto por microempresas o que complica a inovação, mas temos excelentes exemplos na área agroalimentar”, falando de várias empresas e iniciativas que têm apostado na valorização dos produtos DOP e regionais, no interior centro, com o apoio de entidades como o Inov Cluster.
“Devemos começar a ir menos a feiras e a fazer mais ações promocionais. Precisamos de ter uma postura de venda, somos o melhor destino turístico do mundo, mas não conseguimos vender bem os nossos produtos tradicionais”, disse o responsável.
Por seu lado, Ondina Afonso, referiu que um dos desafios é a mudança de ideias dos consumidores e o Continente tem de ter atenção à produção e ao consumidor, e nós somos como uma “sandes, de presunto, estamos no meio”. Ondina Afonso disse ainda que há estudos que mostram que o consumidor, além de alimentação saudável, começa também a querer “comida de conforto, que remete para as memórias e causa bem-estar, que nos traz felicidade”.
Rui Pereira salientou que “a Nobre já se antecipou às tendências de consumo do futuro porque também já temos produtos vegetarianos”, salientando que “os líderes das categorias [como é o caso da Nobre] têm obrigação de antecipar as tendências”, mas não deixou de referir que “em termos de nutrientes a carne é o alimento mais completo”, defendendo o Flexitarianismo, como um bom caminho para a alimentação do futuro.
Empreendedorismo ganha fôlego
O 2.º painel analisou o tema “Empreendorismo: os modelos de negócio emergentes”, com Francisco Ferreira Pinto, administrador executivo da Busy Angels a fazer a apresentação condutora: “Uma visão sobre os novos formatos de negócio”. A Busy Angels é um investidor de capital de risco focado no investimento em startups tecnológicas, que tem atualmente 30 participadas no portfólio nas áreas de IT/Digital e Ciências da Vida, espalhadas por diversos países.
“O ecossistema do empreendedorismo estruturado à La Silicon Valley é ainda recente em Portugal (…) mas tem vindo a construir-se muito rapidamente e encontramos hoje um conjunto de condições propícias à sua afirmação”, afirmou Francisco Pinto, acrescentando que “hoje Portugal tem mais de 130 incubadoras e aceleradoras”.
O administrador da Busy Angels disse ainda que o investimento em scaleups (fase seguinte das startups) tem vindo também a crescer, por parte de investidores privados, mas também estimulado por várias iniciativas públicas, como o Start Up Tech Visa/Voucher, e até a promoção da Web Summit no nosso país.
“Este ecossistema começa também a ser atrativo para investidores e talento internacional e os casos de sucesso de startups em Portugal inspiram novas gerações de empreendedores e fomentam interesse pelo ecossistema”, afirmou, acrescentando, todavia, que “olhando para outras realidades internacionais, existe naturalmente ainda uma margem de progressão elevada”, tanto ao nível das próprias startups, do investimento e do mercado nacional”.
Consumidor português está aberto a inovações
Para a mesa redonda juntaram-se a Cristina Esteves e Francisco Ferreira Pinto, a secretária-geral da Associação Portuguesa de Nutrição, Helena Real; Filipe Simões, diretor executivo da Frueat; Luís Mira da Silva, presidente da Inovisa e partner da Consulai; e Miguel Romão, diretor-geral da Parmalat Portugal.
Miguel Romão defendeu que “somos suficientemente empreendedores e temos consumidores que nos permitem arriscar porque estão abertos a inovações” e adiantou que “a dimensão até ajuda, porque podemos fazer lançamentos no nosso mercado”, servindo de teste.
Mas Luís Mira da Silva salientou que “para os empreendedores a falta de escala é um problema porque o mercado é internacional, as startups têm de olhar desde o início para o mercado internacional” e referiu que Portugal é também cada vez mais atrativo para jovens talentos virem trabalhar, “normalmente o maior problema ainda são os baixos salários”.
Como empreendedor, Filipe Simões explicou que antes de lançar a sua empresa fez um estudo de nove meses a consumidores e defendeu que “o futuro da alimentação será um regresso ao saudável, com os consumidores mais conscientes e preocupados com o ambiente”, com Helena Real a considerar que “o setor agroalimentar será uma área de futuro para os nutricionistas, para ajudar na reformulação dos produtos, sendo aliados da indústria”.
A secretária-geral da APN adiantou que “o conceito de dieta mediterrânica vai fazer cada vez mais sentido, e não só em termos alimentares, mas também no turismo, por exemplo” e sobre a ‘diabolização do plástico lembrou que “o plástico é amigo da segurança alimentar e também ajuda a reduzir o desperdício”, porque prolonga a vida dos alimentos.
Trabalhadores do futuro serão os ‘learning workers’
A abrir o 3.º painel sobre “Comunicação: a era digital e a relação com o consumo”, esteve Pedro Duarte, Corporate, External & Legal Affairs Director da Microsoft, que falou sobre “Como as plataformas digitais impactam nas escolhas e nos negócios”.
Pedro Duarte afirmou que “o motor desta mudança são os dados, a cada dois anos, criamos mais dados do que criámos em toda a nossa história”, mas salientou que esta não é uma revolução apenas digital, há “um equilíbrio forte entre capacidades tecnológicas e capacidades humanas e isso deve-se essencialmente a uma mudança cultural” que está a permitir a “passagem da economia do conhecimento para a economia da aprendizagem”.
Os trabalhadores do futuro serão os ‘learning workers’ cujas competências-chave são o pensamento crítico, a resolução de problemas / decisão, a criatividade, a inteligência emocional, a gestão de pessoas, o espírito colaborativo / equipa e a flexibilidade cognitiva, que “têm de passar de uma mentalidade fixa para uma mentalidade de aprender e crescer”, disse.
Filipa Herédia, Corporate Affairs Manager da Mars Ibéria; João Castro Guimarães, CEO da GS1 Portugal; José Diogo Albuquerque, CEO do Agroportal; e Tiago Lima, Public Affairs & Comunication Manager da Coca-Cola Ibéria, juntaram-se depois a Pedro Duarte e Cristina Esteves para o debate.
A responsável da Mars Ibéria referiu que “a velocidade é um desafio obrigando-nos a sermos mais eficientes e mais céleres”, acrescentando que “a tecnologia trouxe amplitude de espaços para comunicar”, nomeadamente as redes sociais e os blogs.
“Fazemos comunicação com influenciadores, já fazíamos, mas o que mudou foram os canais e os protagonistas” e “defendemos uma alimentação equilibrada, onde todos os produtos, inclusive o chocolate, têm o seu lugar”, pelo que a aposta é numa “comunicação informada e transparente”.
“A geração do online”
O CEO da GS1 Portugal explicou que esta associação sem fins lucrativos é a entidade que gere o sistema de códigos de barras. Sobre as macrotendências no setor, João castro Guimarães salientou “a cibersegurança e análise da qualidade dos dados, sustentabilidade, rastreabilidade, saúde e bem-estar e segurança alimentar”, salientando que o sistema de códigos de barras também pode ajudar em algumas destas áreas.
Já José Diogo Albuquerque disse que “muitas vezes as empresas delegam em empresas especializadas a sua comunicação digital, mas o ideal será haver uma convergência dentro da própria empresa”.
Também Tiago Lima disse que “o digital transformou completamente a comunicação, o consumidor é ativo e cria conteúdos, por isso temos de fazer uma escuta ativa e estar preparados para a conversação, é a geração do online”.
Pedro Duarte acrescentou no debate que “todas as empresas vão ser digitais, em algum momento da sua cadeia de valor vão ter de incorporar o digital”.
Filipa Herédia defendeu que “o futuro vai ser cada vez mais tailor made, com a tecnologia a permitir a personalização e individualização para cada consumidor, por exemplo na alimentação para cada animal, com necessidades específicas”.
“Os alimentos são o novo petróleo e a terra é o novo ouro”
Antes do último painel – Economia circular: preservar os recursos e pensar o futuro –, Diogo Almeida Alves, diretor da Associação Federal Alemã para a Sustentabilidade, fez a apresentação condutora, sob o tema “Binómio tecnologia e sustentabilidade”, título também do seu livro.
No enquadramento da situação, ao nível da produção, o orador citou Lester Brown, afirmando que “os alimentos são o novo petróleo e a terra é o novo ouro”, e frisou que “800 milhões de pessoas no mundo não têm o que comer”.
Diogo Almeida Alves salientou que o consumidor está cada vez mais exigente e sustentável, sugerindo que na relação com o consumidor, “o ponto ótimo seria poder colocar no Whatsapp dúvidas sobre a alface que estou a comer” e isso poderá vir a ser possível num futuro assim não tao longínquo, uma vez que “a tecnologia está a mudar a agricultura, com o agricultor a ser cada vez mais um cientista agrónomo”, quem toma as decisões analisando os dados que recebe de várias fontes.
Na mesa redonda, além de Cristina Esteves e Diogo Almeida Alves, estiveram: Ana Isabel Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde; Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED; Luís Mesquita Dias, diretor-geral da Vitacress; e Tiago Rogado, CEO da Caravela Sustentável – PEFMED Portugal.
Gonçalo Lobo Xavier voltou a lembrar que “o consumidor está mais exigente, atento e conhecedor, com a distribuição a inovar cada vez mais, ao nível da embalagem, por exemplo”, enquanto o diretor-geral da Vitacress defendeu que “não podemos diabolizar o plástico e querer que ele desapareça de um momento para o outro. Nós temos um grupo de trabalho a estudar alternativas, mas não vai ser fácil nem rápido, porque a durabilidade do produto é a prioridade”. Luís Mesquita Dias adiantou que “não podemos esquecer que uma salada é um ser vivo, que respira, por isso as nossas embalagens são micro-perfuradas”, são soluções que demoraram muito tempo a ser aperfeiçoadas e que para serem substituídas, por produtos com resultados equivalentes, requer tempo e investigação.
A pegada de carbono dos produtos
Por seu lado, Tiago Rogado explicou que as empresas já possuem uma ferramenta que lhes permite analisar a pegada de carbono em todo o ciclo de vida dos seus produtos. No âmbito do projeto PEFMED Portugal, a Caravela Sustentável já fez trabalho de campo com a FIPA e a Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) para analisar o ciclo de vida de vários produtos, com base numa matriz que inclui “17 indicadores ambientais e mais 14 indicadores socioeconómicos, que permitem quantificar o impacto real de cada produto”.
Voltando à reciclagem, Diogo Almeida Alves referiu que, no mundo, a taxa de reciclagem mais elevada é a do alumínio (90%), enquanto a do papel é 58% (65% em Portugal disse Ana Trigo de Morais) e a do plástico 20% (55% em Portugal).
A responsável da SPV lembrou que “o plástico, tal como o vidro, é 100% reciclável” e informou que a empresa tem vindo a apoiar vários projetos de inovação que poderão ajudar na eficácia do processo de reciclagem, citando o exemplo de “um projeto que está a investigar a possibilidade de substituir o plásticos por papel transparente nos sacos de papel para pão e afins que existem nos supermercados”.
Ana Trigo de Morais disse ainda que “a reciclagem paga-se e vai ficar ainda mais cara”, pelo transporte e por todo o processo necessário.
O diretor-geral da APED concordou com Luís Mesquita Dias sobre a diabolização do plástico defendendo que “é um erro, porque o plástico tem, de facto, propriedades muito boas para os alimentos, tem é depois de ser reciclado”. Gonçalo Lobo Xavier referiu ainda que o contributo da Europa para o ‘mar de plástico’ é de 2%, por isso tem a oportunidade de liderar neste processo.
Sobre a economia circular, Luís Mesquita Dias, considerou que “esse é um grande desafio que as empresas têm pela frente, mas também têm o dever de educar o consumidor e lhe mostrar tudo o que estão a fazer”, e a grande maioria das empresas tem vindo a apostar muito na área da reciclagem e até da economia circular.
Alimentação é grande desafio da humanidade
O presidente da FIPA voltou ao palco no final dos trabalhos do Congresso para resumir os grandes desafios do setor e salientar “a importância da valorização da indústria agroalimentar”, acrescentando que “o futuro da alimentação é um dos principais desafios da humanidade nas próximas décadas”.
Jorge Tomás Henriques destacou “a necessidade de inovação e sustentabilidade na cadeia e valor” e sublinhou “o papel fundamental que a tecnologia pode ter”, lembrando que “o ambiente empreendedor em Portugal pode ajudar ao sucesso” bem como “as plataformas digitais que estão a impactar os negócios”. “A economia digital é indissociável de todas as áreas no futuro”, defendeu e, mais uma vez, enviou mensagens ao Governo, desta vez na pessoa do ministro da Agricultura, Florestas de Desenvolvimento Rural, que encerrou o 7.º Congresso da FIPA, em representação do primeiro-ministro. Mensagens sobre o trabalho que há muito tem vindo a ser feito em termos de reformulação de produtos, para a redução do açúcar, sal e gorduras, bem como no âmbito das relações entra a produção e a distribuição.
Luís Capoulas Santos confirmou que “a FIPA é um importante aliado do Ministério da Agricultura e tem contribuído sempre para o diálogo na PARCA [Plataforma de Acompanhamento das Relações na Cadeia Alimentar]” e frisou que “uma agroindústria forte é fundamental para o País porque cerca de 50% da produção agrícola é incorporada na agroindústria”.