Vinho do Porto já paga a fatura do Brexit
Até novembro as vendas para o Reino Unido caíram 14,9%, indicando que o sector já começou a "pagar a fatura" do Brexit, diz Adrian Bridge, diretor-geral do grupo The Fladgate Partnership. Uma saída sem acordo significa que "temos em risco 40% do nosso negócio em Inglaterra", assume a Fladegate.
No sector do vinho do Porto, a ameaça do Brexit é real e um dos primeiros a assumir o problema é Adrian Bridge, diretor-geral do grupo The Fladgate Partnership: “No cenário de uma saída dura do Reino Unido (sem acordo com a UE) temos em risco 40% do nosso negócio em Inglaterra”, admite ao Expresso.
No dia em que o Brexit voltou ao Parlamento britânico e primeira-ministra Teresa May assumiu o objetivo de apresentar um novo acordo com Bruxelas até 13 de fevereiro, Adrian Bridge manifestou "muita preocupação" pelo cenário atual e defendeu as virtudes de uma estratégia política de “flexibilidade” num país em que “17,2 milhões de pessoas queriam o Brexit, mas 16 milhões queriam ficar, logo no momento do referendo”.
A dois meses da data anunciada para o divórcio com a UE, o empresário inglês acredita que a melhor solução seria realizar outro referendo, “já com toda a informação disponível sobre a questão”, mas, política à parte, o grupo Fladegate, um dos maiores protagonistas do sector do vinho do Porto, está consciente dos riscos para o negócio.
Desde logo, pelas questões cambiais, até porque os especialistas dizem que “uma saída sem acordo implicará uma desvalorização de 15% na libra e nós já temos margens muito apertadas, o que significa que os preços terão de subir”, comenta.
"Mas se todos os produtos importados sobem, os consumidores britânicos passam a ter de comprar menos coisas, e na hora de cortar, não vão comprar menos pão, mas poderão comprar menos vinho do Porto”, comenta , certo de que a subida de uma garrafa de vinho do Porto de 15 para 20 libras, “significará, necessariamente, menor volume de vendas”.
MERCADO DÁ SINAIS PREOCUPANTES
E os sinais que chegam do mercado britânico são preocupantes, indicando que o sector já começou a "pagar a fatura" do Brexit, admite Adrian. Até novembro de 2018, as vendas de vinho do Porto caíram 2,8%, para 333,7 milhões de euros, com o Reino Unido, atualmente o segundo maior mercado do sector na exportação, atrás de França, a protagonizar uma das maiores quedas (14.9%), para os 39 milhões de euros. Mais: nas categorias especiais, que têm historicamente um bom desempenho no Reino Unido, também há uma quebra de 12,9%, quando o conjunto das vendas do sector sobe 0,8%.
Mas olhar a história ajuda a perceber como o negócio do Vinho do Porto se foi desenvolvendo e adaptando para sobreviver ao tempo e às crises. E Adrian Bridge, à frente de uma empresa com mais de três séculos no currículo continua a acreditar que o negócio do Vinho do Porto está "cheios de oportunidades". "É preciso ter uma visão de médio a longo prazo, até porque, independentemente do Brexit, a globalização continua", defende.
A trabalhar apenas no segmento do vinho do Porto, o grupo Fladegate tem, no Douro, 700 hectares e 1,4 milhões de pés de vinha, empregando 820 pessoas. Fatura mais de 100 milhões de euros.
Os números de 2018 ainda não estão fechados, mas Adrian admite uma descida das vendas no negócio do vinho em linha com a quebra do sector para o negócio do vinho do Porto. Os lucros, no entanto, deverão crescer porque o Vintage 2016 entrou no mercado, o que em termos práticos significa mais valor com menos quantidade e o consequente crescimento das margens. E, no turismo, onde a Fladegate está presente com hotéis como o The Yeatman, Vintage House e Infante Sagres, a par de centros de visita no Douro e em Gaia, o ano de 2018 foi de crescimento.