publicado a: 2020-01-17

Vírus do fruto rugoso castanho do tomateiro (ToBRFV)

Uma potencial nova ameaça para as culturas do tomate e do pimento na União Europeia.

O aparecimento, incluindo em diversos estados membros da União Europeia, de uma nova doença com particular incidência nas culturas do tomate e do pimento, cujos sintomas tornam os frutos não comercializáveis e cuja transmissão por semente e contacto potenciam a sua rápida disseminação com impacto elevado sobre a produção e alto risco de instalação e difusão nas áreas afetadas levou a Comissão Europeia a propor, discutir, aprovar e publicar medidas de emergência, consubstanciadas na Decisão de Execução (UE) 2019/1615 da Comissão de 26 de setembro de 2019, para evitar a introdução e a propagação na União do organismo prejudicial «vírus do fruto rugoso castanho do tomateiro» (ToBRFV).

UM POUCO DE HISTÓRIA

No outono de 2014, uma nova doença infetando plantas de tomateiro (Solanum lycopersicum) surgia no sul de Israel. O conjunto de sintomas caracterizava-se por um padrão de mosaico nas folhas acompanhado ocasionalmente pelo estreitamento das mesmas e frutos amarelados.

A doença espalhou-se de forma mecânica e muito rapidamente, lembrando as infeções por tobamovírus. No espaço de um ano, em virtude da ação humana e do comércio de sementes e estacas infetadas, a doença disseminou-se por todo o país. Seis meses mais tarde, em abril de 2015, sintomas pouco usuais foram observados numa cultura de tomate de estufa na Jordânia. As plantas afetadas apresentavam sintomas foliares suaves no final do ciclo cultural mas um forte rugoso acastanhado nos frutos, afetando gravemente o valor comercial dos mesmos. A doença apresentava uma incidência próxima dos 100%. Desta observação resultou a primeira presença identificada de um novo tobamovírus, provisoriamente nomeado como Tomato brown rugose fruit virus, em plantas de tomateiro. Estudos posteriores vieram a demonstrar tratar-se do mesmo agente responsável pelos sintomas já observados em Israel.

Desde então, a ocorrência desta nova ameaça foi constatada no México, onde progrediu desde as deteções iniciais em setembro e outubro de 2018 em dois estados daquele país até aos mais de 100 focos registados nas prospeções realizadas desde fevereiro de 2019 em 20 estados, com resultados positivos em tomate, pimento (Capsicum sp.) e uma deteção em beringela (Solanum melongena), nos Estados Unidos da América, também em setembro de 2018, numa estufa de produção de tomate na Califórnia, e, ainda antes do final de 2018, as primeiras identificações do vírus na Europa, em novembro na Alemanha, em 7 estufas produtoras de tomate numa extensão de 25ha com cerca de 10% dos frutos a apresentar sintomas e na Itália, em dezembro, na Sicília, igualmente em tomate, com 10% a 15% das culturas afetadas embora com sintomas não severos nos frutos e deteções posteriores em materiais de viveiro e em lotes de semente não italiana. As investigações conduzidas na Alemanha permitiram determinar que as plantas infetadas tinham como origem um outro país e uma análise de risco expresso concluiu que o vírus representa um risco elevado para a Alemanha e para outros estados membros da União Europeia.


Tomato Brown Rugose Fruit Virus (ToBRFV) Foto: Prof. Salvatore Davino https://gd.eppo.int/taxon/TOBRFV/photos

A Organização Europeia e Mediterrânica de Proteção de Plantas (OEPP) decidiu, em janeiro de 2019, incluir o ToBRFV na sua Lista de Alerta

Após estas primeiras deteções, em particular as da Alemanha e Itália, considerando a importância da cultura do tomate, e também do pimento, na região europeia e mediterrânica e tendo em conta que os sintomas da doença tornam os frutos não comercializáveis e que uma vez o vírus introduzido numa área as medidas de controlo são muito limitadas e assentam essencialmente na eliminação das plantas infetadas e em rigorosas medidas de higiene, a Organização Europeia e Mediterrânica de Proteção de Plantas (OEPP) decidiu, em janeiro de 2019, incluir o ToBRFV na sua Lista de Alerta.

Várias ocorrências da doença foram verificadas em diversos cantos do globo, incluindo novas deteções na União Europeia

Entretanto, várias outras ocorrências da doença foram verificadas em diversos cantos do globo, incluindo novas deteções na União Europeia. Na Turquia, no início de 2019, numa estufa de tomate afetando cerca de 20% das plantas, na China, em abril, na província oriental de Shandong com uma incidência estimada de 50% em 4000 m2 de tomate em estufa, de novo na Itália, em maio, desta vez a norte do continente no Piemonte, com cerca de 15% das plantas de uma cultura hidropónica de deteção ocorrida no México, a inoculação experimental do vírus em plantas de beringela e batata não resultou em sintomas nem em resultados positivos no subsequente teste ELISA.

Os sintomas foliares incluem clorose, mosaico e marmoreado com afilamento ocasional das folhas, pontos necróticos podem aparecer nos pedúnculos, cálices e pecíolos e os frutos apresentam manchas amarelas ou acastanhadas

Os sintomas manifestados em tomateiro podem variar em função da variedade tendo-se constatado que cultivares com o gene resistente Tm-22 (usado contra outras tobamoviroses) são suscetíveis ao ToBRFV (foi aliás a verificação da quebra de resistência em tomateiro conferida pelo gene Tm-22 aos vírus mosaico do tabaco (TMV) e mosaico do tomateiro (ToMV), ambos tobamovírus, que despoletou a deteção deste novo tobamovírus).

Os sintomas foliares incluem clorose, mosaico e marmoreado com afilamento ocasional das folhas, pontos necróticos podem aparecer nos pedúnculos, cálices e pecíolos e os frutos apresentam manchas amarelas ou acastanhadas, com os sintomas rugosos que os tornam não comercializáveis. Podem apresentar deformações, listras e maturação irregular.


Tomato Brown Rugose Fruit Virus (ToBRFV) – Sintomas em pimento Foto: Raed Alkowni | https://gd.eppo.int/taxon/TOBRFV/photos

As medidas incidem sobre vegetais para plantação de Solanum lycopersicum L. e Capsicum annuum e incluem:

Introduções que ocorreram na Comunidade antes da entrada em aplicação da Decisão;

Os vegetais para plantação, incluindo sementes, de Solanum lycopersicum e Capsicum annuum só podem circular na UE devidamente acompanhados de Passaporte Fitossanitário e subordinados ao cumprimento de uma das seguintes opções:

a) São originários de áreas onde se sabe que não ocorre o ToBRFV

b) Para vegetais para plantação, com exceção das sementes:

  • -i) São originários de um local de produção onde se sabe que não ocorre o ToBRFV, com base em inspeções oficiais realizadas no momento adequado à deteção do vírus; e
  • -ii) Derivam de sementes originárias de zonas indemnes do ToBRFV ou que foram sujeitas a testes oficiais de deteção do tobamovírus, com base numa amostra representativa e por recurso a métodos apropriados, que tenham permitido concluir estarem indemnes do ToBRFV

c) No caso das sementes, foram realizados uma colheita oficial de amostras e testes oficiais de deteção do ToBRFV, com base numa amostra representativa e por recurso a métodos apropriados, que tenham permitido concluir estarem indemnes do ToBRFV.

Considerando que apenas neste ano de 2020 se iniciará a prospeção do ToBRFV em Portugal, não é possível atualmente afirmar oficialmente que o ToBRFV não ocorre no nosso território (…).

Autoria: João Nuno Barbosa Chefe de Divisão de Inspeção Fitossanitária e de Materiais de Propagação Vegetativa - Direção-Geral de Alimentação e Veterinária

Desenvolvimento deste e de outros artigos, na edição impressa da Revista Voz do Campo.

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