Abelhas cultivam fungos importantes para a sua sobrevivência
Abelhas nativas do Brasil desenvolveram uma forma rudimentar de agricultura, cultivando um fungo nos compartimentos da colmeia onde colocam os seus ovos.
Diversas formigas são famosas por se dedicar ao cultivo de fungos, mas as mandaguaris (Scaptotrigona depilis), nativas de áreas de vegetação aberta do sudeste e do sul do Brasil, são as primeiras abelhas documentadas que apresentam um comportamento parecido, ainda que mais rudimentar.
«No começo, achei que o fungo causava uma doença nas abelhas», segundo o cientista Cristiano Menezes, da Embrapa Amazónia Oriental.
É que, durante o seu doutoramento na USP de Ribeirão Preto, ele estava tentar produzir rainhas mandaguaris em laboratório. Em tese, o processo é simples: tornam-se rainhas as larvas que recebem uma quantidade elevada de comida (seis vezes mais do que o oferecido às futuras operárias).
«Recolhe-se o alimento larval da própria colónia e coloca-se dentro de casulos artificiais com a larva recém-nascida. O problema é que a câmara era muito húmida, o fungo crescia muito rápido e matava as rainhas», recorda Menezes.
Bastou regular a humidade, no entanto, para que as futuras rainhas melhorassem a sua expectativa de vida - e para que os investigadores notassem um fenómeno curioso: as larvas estavam a comer os filamentos esbranquiçados do fungo.
O resto da história está num artigo publicado na revista científica Current Biology, assinado por Menezes e os seus colegas da USP e da Unicamp.
O consumo da quantidade correta do fungo não só é inofensivo para as larvas como, aliás, parece ser essencial: as futuras abelhas têm dificuldade de sobreviver na ausência do micro-organismo do género Monascus que, do ponto de vista humano, pode ser considerado um bolor.
Fonte: Diário Digital