Estudo: Há cogumelos capazes de decompor plástico em semanas
Os Reais Jardins Botânicos de Kew compilaram, num só relatório, toda a informação disponível sobre cogumelos. No documento consta uma espécie capaz de decompor plástico e outra que produz biocombustível.
Aspergillus tubingensis é o nome da espécie de cogumelos com uma particularidade única: é capaz de comer plástico. A solução para combater os resíduos plásticos poluentes pode, afinal, estar na própria natureza, avançam cientistas dos Reais Jardins Botânicos de Kew, no Reino Unido — e isto apesar de a investigação estar ainda numa fase inicial.
Aquela instituição elaborou um relatório — State of World’s fungi —, o primeiro do género, no qual reuniu toda a informação conhecida sobre cogumelos e onde dá conta das várias funções, mais-valias e ameaças que as várias espécies representam para o ecossistema.
Entre eles estão os Aspergillus tubingensis, com uma "dimensão similar à de pequenos tomates", que em semanas foram capazes de decompor um tipo de plástico muito utilizado para o isolamento de arcas congeladoras e couro sintético. O polyester polyurethane demora anos a decompor-se. Esta característica especial destes fungos pode ser desenvolvida pelos cientistas e, assim, ajudar a contornar o crescente problema relativo ao excesso de plástico que o planeta encara. A este cogumelo com um invulgar apetite por plásticos, soma-se ainda uma lagarta, uma enzima e um fungo que vive na costa portuguesa.
Mas as curiosidades sobre estes fungos — elencadas no relatório dos Reais Jardins Botânicos de Kew — não ficam por aqui. Os diferentes usos dos cogumelos oscilam entre a utilização medicinal e nutricional e à produção de novos tipos de biocombustíveis, além de poderem ajudar no fabrico do papel. São capazes de auxiliar, inclusive, algumas plantas a desenvolverem-se mais rápido, bem como controlar as variações térmicas das mesmas.
O Daldinia eschscholtzii, por exemplo, é um fungo capaz de produzir bioetanol, um biocombustível "de segunda geração", explicou Ester Gaya, investigadora dos Jardins Kew que esteve envolvida na elaboração do relatório. Esta e outras espécies, acrescentou, vivem no interior de uma planta e “decompõem os resíduos de celulose (resíduos da agricultura) em açúcares, que são fermentados pela levedura em etanol". "O recente desenvolvimento de carros eléctricos alimentados por células a combustível de etanol manterá vivo o interesse na produção de bioetanol”, assegurou. O potencial dos cogumelos para a produção de biocombustíveis, de uma forma mais económica e sustentável, eleva-se.
Os famosos cogumelos alucinogénios, por outro lado, são de várias espécies e remontam até à Idade da Pedra, explicou a especialista. “Como qualquer outra droga, e sendo proibido, envolve sempre algum misticismo”, apontou. “Os efeitos dependem do número de cogumelos consumidos, já que produzem efeitos do tipo alucinogénio, similares aos do LSD.”