publicado a: 2021-02-22

Sobre o azoto e a tremocilha do meu avô

Lembro-me que o meu avô semeava tremocilha em rotação nas tornas que seriam depois de batata, couve ou feijão. Ela depois crescia, florescia, dava umas pequenas vagens com pequenos tremoços - mas nunca era colhida, ceifada ou dada aos animais da capoeira. Era cortada ainda verde e enterrada quando se cavava o chão.

Com o tempo, tentei perceber para que servia esta sideração ou adubação verde e porque se fazia com aquela planta. O meu pai explicou-me porquê: adicionar à terra um nutriente que existia no ar e que as plantas não conseguiam captar daí, apesar de precisarem dele em grande quantidade, o azoto. Reparei então nas raízes, esbraquiçadas e com pequenos nódulos.

As plantas da família das leguminosas fazem uma simbiose na raiz com a bactéria Rhizobium leguminosarum. O aspecto da raiz em que reparei é porque as plantas dão condições às bactérias se desenvolverem. Estas, em troca, transformam o azoto presente na atmosfera do solo (aprox 78% como na restante atmosfera terrestre). Por esta razão as leguminosas são naturalmente ricas em proteínas em cuja composiçao o azoto tem uma presença muito importante.

A sideração e outras formas de incorporação de azoto no solo (tal como a estrumação) foram utilizadas durante séculos. Só no início do século XX começou a produçao industrial de nitratos artificiais obtidos a partir do azoto atmosférico. É impossível sequer imaginar as produtividades actuais da agricultura sem estes e outros adubos azotados, como os amoniacais.

Mas nos últimos anos, a preocupação com a capacidade poluente dos adubos azotados tem aumentado. No caso especial dos nitratos, há uma tendência forte para que sejam arrastados para as águas subterrâneas e superficiais, provocando, por exemplo, eutrofização. Neste contexto, é importante considerar a sideração como uma das ferramentas disponíveis, integradas no ciclo do azoto.

Hugo Pires
Eng.º Agrónomo

Comentários